sábado, 25 de setembro de 2010

luz apagada

o vento gélido da madrugada alcançou sua cama e sua alma, tocou sua face e a fez acordar. às 3h uma força vital ainda entranhava-se em seus músculos e ossos. levantou-se da cama e, durante algum tempo, manteve-se sentada com o cobertor aquecendo seu corpo, instalada na escuridão do seu quarto. os pés descalços tocaram o chão frio e puseram-se a caminhar, à procura de algum refúgio ou bebida quente. então dirigiu-se à varanda, levando consigo alguns cigarros e abismos. debruçou-se sobre a quietude da noite, olhou para o céu negro e encarou as estrelas, que brilhavam com exuberância. fechou e abriu os olhos lentamente. acendeu um, dois, três cigarros, fitando a fumaça que saía de sua boca. isso a manteve aquecida e distraída por algum tempo. mas sua mente continuava inquieta, assim como suas mãos e seus anseios. resolveu, então, andar. a passos curtos e incertos, percorreu caminhos estreitos e tortuosos da sua mente. o tempo todo topava com antigas lacunas, dúvidas abandonadas. sabia, talvez, que nunca haveria uma resposta sequer pr'aquele turbilhão de inconstâncias e aflições, e isso a deixava com um sentimento perturbador de vazio. questionava-se a possibilidade de haver algum sentido que preenchesse com precisão a resposta para todos esses e aqueles atos, consciente ou inconscientemente, realizados. acendeu o último cigarro. às vezes se deparava à beira de uma fronteira mental e moral, do certo e do errado, do bom e do mau, da dor e da cura. mas como diferenciar esses extremos, perguntava-se. a única coisa que ela sabia a respeito disso era que um dependia da existência do outro para também existir. então onde estariam as respostas para todas essas dúvidas? talvez nem tudo devesse ser esclarecido, pensou. não sabia ao certo. também não mais importava, estava cansada demais para continuar divagando. caminhou de volta até o seu quarto e trancou a porta. o noite começou a ir embora. deitou-se em sua cama, fechou os olhos e adormeceu. o mundo desperto apareceu novamente, lá fora.